domingo, 30 de setembro de 2012

Chaves: representação do inferno?




Na edição 1896 do Jornal Opção, de Goiás, surgiu uma análise muito boa do seriado Chaves, feita pelo historiador Ademir Luiz. De acordo com o texto, esse programa de televisão seria uma representação do inferno. O autor usa argumentos sólidos, como o fato de D. Clotilde vez por outra perguntar por Satanás. De acordo com o estudioso, essa entidade é transmorfa, por isso há episódios em que é mencionada como um gato, em outros como um cachorro. Além disso, essa mulher é a bruxa do 71, o que permite duas referências interessantes – a primeira é a de que na tradição cristã as feiticeiras são associadas ao príncipe das trevas; a segunda é a de que os algarismos que compõem o número de sua casa, quando somados, formam o 8, o número que representa o infinito – e que é justamente o da casa em que mora o protagonista da série.


Ainda assim, há problemas na exposição do autor, como o argumento de que a atriz que foi chamada para interpretar essa moradora ser uma ex-miss, o que faria com que atuasse o castigo pelo pecado da vaidade. Não se deve confundir ator com personagem, do contrário, acabar-se-ia limitando a potencialidade da dramaturgia. E mesmo que o autor de programa, Roberto Gómez Bolaños, tenha tido alguma intenção sutil com tal escolha, ela teria sido tão discreta que não teria surtido eficiência em seu discurso. Mas, no momento, vamos nos concentrar nos pontos positivos da análise feita pelo goiano.
O protagonista desse humorismo no original não tem nome. No México a atração é chamada de El Chavo del Ocho, ou seja, “O Moleque do Oito”. No Brasil houve uma adaptação do termo hispânico “chavo” para “Chaves”. E de fato, como aponta Ademir Luiz, em nenhum momento o nome do menino é mencionado. Além disso, esse garoto fora acolhido por uma senhora que nunca é vista. Como ela mora na também nunca vista casa 8, número que, deitado, representa o infinito – Fernando Pessoa já fazia no começo do século XX essa mesma associação ao se achar especial por ter nascido em 1888, ano que apresenta três vezes esse signo –, essa mulher passa a ser entendida como a morte, a entidade eterna que intercepta os vivos.


Dentro desse raciocínio, a vila em que se passam essas histórias nada mais seria do que uma representação do inferno, com direito a vários tipos de demônios torturando as almas que para lá foram condenadas. O Satanás da Bruxa do 71 é Belzebu, entidade ligada à vaidade. Paty e tia Glória seriam súcubus, manifestações femininas do demônio e que têm a função de tentar com sua sedução os homens, no caso Chaves e Seu Madruga. Hector Bonilla seria um íncubo, versão masculina dos súcubos, com a função de tentar as mulheres. Nhonho seria Mammon, que castigaria Seu Barriga, a avareza em pessoa, fazendo-o destroçar sua fortuna. Popis seria Azazel, instigando a fúria de Chiquinha. Godinez seria Leviatã, atiçando a inveja intelectual de Quico.
Nesse campo, não é gratuito que Jaiminho, o carteiro, sempre se mostra cansado, pois, trazendo mensagens para os moradores, na verdade já mortos, seria um médium esforçando-se sobre-humanamente para estabelecer contato. Além disso, o fato de Chaves ser moleque, ou seja, o que apronta, o que subverte os valores, facilita que se entenda que se trata de um pecador.
É também um excelente argumento a ideia de os amigos da personagem principal representarem pecados capitais. Quico simbolizaria a inveja, tanto que é o mais abastado da vila, mas sempre tem inveja dos brinquedos que os outros têm, bem mais pobres que os dele. Chiquinha seria prisioneira da ira, que a faz atropelar com seu triciclo tudo e todos. Para piorar, como é a mais fraca do grupo, sua raiva não é extravasada, limitando-se a chorar e chorar. O Chaves, nesse sentido, seria o representante da gula, pois não para de pensar em comer.
Entretanto, há problemas nessas aproximações. O protagonista, em sua fome insaciável, fala sempre em presunto e chega a chamar seu professor de Linguiça, referências, para Ademir Luiz, à carne de porco, alimento proibido por Deus, o que aumentaria a carga de seu pecado. Mas tal restrição só se aplica às culturas judaica e muçulmana, não à cristã, pelo menos conforme ela se consagrou. Além disso, esse menino também mostra sua gula também com churros. Ademais, qual criança não se mostra esganada?
Seu Barriga, por sua vez, seria a alegoria da ganância, pois vive ostensivamente fazendo cobrança. Entretanto, causa estranheza falar que sua Brasília amarela é referência à corrupção brasileira. Em primeiro lugar, o México também viveu problemas com a apropriação indevida de recursos públicos. Sem falar que a menção a esse automóvel pode ser só da tradução. Então por que aqui se aceita a adaptação à cultura brasileira e no nome do protagonista tão é rejeitada?


Torce-se o nariz, por sua vez, para a caracterização de Seu Madruga. É certo que ele pode representar o absurdo pecado da preguiça, pois sempre está gastando muito mais esforços para realizar suas tarefas, principalmente pagar o aluguel atrasado. De fato, são 14 meses que nunca chegam a 15, o que levou o historiador a fazer mais considerações numerológicas: 14 = 7 + 7, pondo à tona um número com fortes conotações bíblicas, como a famosa 70 x 07, outra referência ao infinito.
A grande falha da análise está na associação de Chaves à ideia do infinito como suspensão do tempo, uma das características marcantes das penas do inferno. É por isso que nunca se sairia dos 14 meses de aluguel atrasado (mas como se chegou aos 14?). É por isso que D. Florinda e o Professor Girafales estariam numa espiral infinita de nunca saciarem o pecado da luxúria, a cada episódio sempre com convite para mais uma xícara de café, bebida de consagradas propriedades estimulantes. Um detalhe muito importante está sendo esquecido: a forma em que o programa se apresenta, ou seja, o seu gênero.
Não se está dizendo que a suspensão do tempo não pode funcionar em arte como representação de uma condenação infernal. Vemo-la no filme 1408 (2007), em que o pior da tortura está na possibilidade claustrofóbica de toda a agonia se repetir integralmente a cada hora. Ou em Vidas Secas (1938), de Graciliano Ramos, em que de fato o inferno, palavra crucial no romance, está no fato de as personagens estarem condenadas a um massacre social e existencial sem saída. Mas, note-se, nesses dois casos a forma em que se manifesta o texto possibilita essa interpretação.
Já no caso de Chaves, Ademir Luiz falha ao não perceber que se trata de um seriado humorístico popular, por isso as repetições quase que ad infinitum. É o mesmo que ocorre em Zorra Total e A Praça é Nossa. A forma acaba determinando o tema – cada um dos vários episódios naturalmente repete elementos. Não é um romance de pouco mais de cem páginas. Não é um filme de cerca de duas horas de duração. Além disso, o caráter claustrofóbico visto pelo historiador, que afirma que tudo se concentra em vila, rua, restaurante, sala de aula, é também característica desse gênero, que prima pela pobreza cenográfica.
Entretanto, tais pontos não invalidam a beleza do texto produzido pelo historiador, pois cumpriu uma excelente tarefa pertencente ao que há de mais nobre no ser humano: a produção e circulação de ideias. Seus argumentos, em boa parte, são bem embasados, basta observar a proporção dos pontos positivos arrolados aqui em relação aos negativos. É isso que torna a sua leitura prazerosa, principalmente para quem tem mente aberta e, portanto, livre de preconceitos. Além disso, não se está mais no tempo de proibição do livre pensamento. É lamentável, portanto, a desproporção na página do artigo do autor entre as inúmeras ofensas e as pouquíssimas contra-argumentações. Vivemos tempos sombrios. O inferno não está em Chaves. Está aqui.

27 comentários:

  1. Eu gosto dessas "conspirações", porém neste caso acho mais sensato, e muito mais interessante, pensar que o anonimato de Chaves é uma referência as diversas crianças que vivem na situação dele, ou seja, um anonimato devido a sua pobreza e o abandono dos pais. Além do mais, que os 7 pecados capitais são comportamentos comuns do ser humano, sendo assim, de fácil identificação do espectador com o personagem, além de ser, talvez, uma crítica à esses arquétipos. Enfim, gostei da sua exposição, como também dos outros textos, porém, tem muito mais conspiração nos vídeos de maçonaria, annunakis, nova ordem mundial, entre outros.

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    1. Suas observações são muito boas, principalmente no que se refere ao anonimato. De fato, é uma maneira de fazer com que a personagem fale com algo que está dentro de todos nós.
      Detalhe: não sei o que é annunakis.

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  2. Caramba, nunca conheci tantos demônios, ótima conclusão!

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  3. "Godinez seria Leviatã, atiçando a inveja intelectual de Quico"
    Mas ele é tão burro quanto os outros...

    "Seu Barriga, por sua vez, seria a alegoria da ganância"
    Mas quase sempre perdoa os aluguéis atrasados do seu Madruga, que foi taxado de vagabundo, embora já tenha trabalhado como tudo nesta vida. Trabalhou como pintor, carpinteiro, empresário artístico, depenador de frangos, eletricista, cabeleireiro...

    "Paty e tia Glória seriam súcubus"
    Obaaaa... sabia que tinha algo de bom no inferno! :D

    "D. Florinda e o Professor Girafales estariam numa espiral infinita de nunca saciarem o pecado da luxúria"
    Luxúria??? Ta aí um dos (pré)conceitos bíblicos que considera como pecado todo contato físico visando ao prazer em detrimento da reprodução humana.

    Embora o autor se esforce para fazer de sua teoria algo respaldado, ele peca em tentar dar uma base racional para a irracionalidade, em outras palavras, para a fé. Seus argumentos se firmam em algo que não é fruto de experiências ou da razão.
    Mas se você é um daqueles que ama ouvir esse tipo de tese, visite o manicômio mais próximo de sua residência. Tenho certeza de que lá haverá também pessoas que, como o autor, enxergam demônios em todos os lugares.

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    1. Talvez o mais cômico fosse exatamente isso, um burro atiçar a inveja do conhecimento.
      Achei muito boa sua observação sobre seu Madruga, que no fundo não é tão vagabundo assim.
      Quanto ao problema de dar base racional à fé, esse era o problema da Igreja na Idade Média, material que o autor do artigo usa em sua análise. Além disso, a cultura ibérica que foi transposta para a América - Brasil e México - carrega essa essência da Idade Média.
      E lembra quem enxergava demônios em toda parte? Lembra-se da Inquisição?

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  4. Existe sim um episódio o qual os 14 meses de aluguel se tornam 15 meses

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  5. Ele estabeleceu diversas ligações plausíveis e algumas nem tanto. Admiro pessoas que conseguem chegar a aproximações como essas, é necessário um amplo conhecimento para tal. Gostei muito, apesar de ter achado um tanto quanto exagerada a comparação do casal Florinda e Girafales com Marquês de Sade e Messalina.
    Em relação à ira da Chiquinha, vejo de uma forma diferente: ela é uma menina de mais ou menos 9 anos que tem como amigo o "delinquente" Chaves. Obviamente (ah, mulheres!), se apaixona por ele e não é correspondida, por conta da maturidade que sempre chega atrasada no cromossomo Y. A inveja e a gula são típicas das crianças e o Jaiminho (natural de Tangamandápio) está sempre cansado porque não sabe andar de bicicleta e tem que vagar a pé pelas ruas. Agora chega de escrever porque prefiro evitar a fadiga.

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    1. Você fez observações muito boas, dignas de quem domina o assunto. Acho que você era viciada em Chaves!

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  6. Cresci assistindo e hoje assisto sempre que posso. Conversei certa vez com o Melécio sobre Chaves e ele me disse que um mexicano falou que o seriado foi inspirado na Revolução Mexicana (1910). Faz sentido, pois o seriado foi ao ar pela primeira vez em 1971.
    Segundo essa teoria, os homens saíram para lutar e a maioria não voltou (como o pai do Kiko), restaram os professores (Girafales), os idosos (Jaiminho), os inválidos/preguiçosos (Seu Madruga) e os "bacanas" (Seu Barriga). As viúvas recebiam uma pensão em dinheiro que era uma verdadeira merreca; as que conseguiam sobreviver com ele eram chamadas de bruxas, pois somente uma bruxa conseguiria viver com tão pouco (Dona Clotilde).

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    1. Muito boa essa interpretação. Muito boa mesmo. Mas em que ano foi essa revolução

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  7. Os antecedentes vêm desde 1876, no governo do ditador Porfírio Diaz, mas somente em 1910, com a reeleição fraudulenta de Diaz, a Revolução tem início. Terminou, creio eu, em 1923, após a morte de Pancho Villa (Emiliano Zapata já havia morrido em 1919). A morte deles acaba diminuindo as lutas sociais, que ressurgem em 1929 (decadência econômica), daí a necessidade de eleger um presidente populista (Lázao Cárdenas) para acalmar a população.

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  8. O seu desfecho foi genial Lau.Parabéns pelo texto! Acho que na realidade os personagens do chaves não passam de representações das pessoas na vida real de uma forma caricaturizada. Eu consigo enquadrar vários, ou talvez todos, os personagens em pessoas as quais conheço.

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  9. Antes do comentário procurei ler o texto de Ademir Luiz e pude verificar que realmente se trata de uma bela construção com argumentos bem embasados.
    Ocorre que há importantes ressalvas desconsideradas pelo autor. Por algum motivo, houve uma supressão de fatos marcantes na série "Chaves". Pode ser que Ademir Luiz não tenha sido um espectador efetivo da série, ou talvez não se lembrou de alguns fatos,ou até mesmo procurou desconsiderá-los para que não tivesse possíveis dificuldades de argumentação.
    Pois bem, Ademir Luiz considera que Roberto Bolaños "é o criador de uma das mais sutis, brilhantes e temíveis representações do inferno" , mas não aborda questões relevantes como grandes demonstrações de humanidade que fazem parte da série em questão.
    Quem não se lembra de quando o "Seu Madruga" oferece "seu corpo" para apanhar de Dona Florinda no momento em que ela pergunta sobre o destino de seus churros? Recordemos que Chaves se encarregou de cuidar dos churros que Madrugda estava vendendo uma vez que este precisava de ir ao banheiro. O resultado: Chaves comeu todos os churros e Madruga não o acusou à Dona Florinda. Muito pelo contrário, assumiu o feito... Quem assistiu a este episódio há de se lembrar com riqueza de detalhes...
    Continuemos esta abordagem despretensiosa...
    Quando Ademir Luiz mencionou os intermináveis "14 meses" de alguel, não se ateve ao fato de que houve dois episódios marcantes sobre a questão: em um deles, por incrível que pareça, "Seu Madruga" consegue sim pagar o aluguel! Tudo bem que os móveis de Madruga já estavam todos no pátio da vila... Mas quando Chaves derrubou um guarda-roupas , Madruga achou o dinheiro e pagou o aluguel! Foi demais a expressão de alívio e dever cumprido do Mestre Madruga,rs. No outro episódio, o Senhor Barriga está na iminência de despejar Madruga da casa quando inventa a desculpa de que este havia perdido certa luta e o salvou de uma dívida. Desta maneira, o aluguel foi perdoado. Cabe informar que depois do fato, o Senhor Barriga foi questionado pelo Professor Girafales sobre a conduta de se envolver com apostas de lutas. Senhor Barriga nega a conduta e rebate: "Se essa gente sair daqui, o que vai ser delas?"
    Continua...

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  10. Continuando:

    Um pouco acima houve a mencão de meste ao "Seu Madruga... Eplico: reservo-me ao direito de escrever Mestre Madruga porque esta personagem transmitiu aos espectadores mais sensíveis, valores importantes. Um deles já foi mencionado no bonito episódio dos churros. Existe um episódio em que a implacável Dona Florinda elogia Madruga pois ele havia dito às crianças a seguinte frase:"As pessoas boas devem amar seus inimigos". Lembro que neste episódio Chaves escapou de um cascudo pois repetiu a frase ao próprio Madruga. Falando em frases do Mestre Madruga, o que não dizer da seguinte: "A vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena"? Sem mais... E como não poderia de se mencionar, a frase mais célebre: "Não existe trabalho ruim, o ruim é ter que trabalhar." Afinal, devemos viver,rs.
    Lancemos o olhar mais longe para se verificar condutas admiráveis de outras personagens.
    O já mencionado Senhor Barriga proporcionou ao Chaves uma viagem a Acapulco. Sim, Acapulco! Também recebeu em sua residência os moradores do pátio da vila quando este passava por reformas. Ao término das reformas, até o barril do chaves foi beneficiado.
    Chaves, personagem principal, também tem o seu momento de bom samaritano. No episódio em que o aniversário do Quico foi o tema principal, Chaves se preocupa em guardar alimentos do referido aniversário. Neste caso, Ademir Luiz até pode falar da gula do menino... Desde que não assista até o final do episódio cujo desfecho foi inesperado: Chaves compartilha com Madruga os alimentos. E Madruga compartilha um "refresco" com Chaves. Também existe o episódio em que Chaves foi injustamente acusado de ladrão. Na oportunidade, o menino indefeso frente aos argumentos dos moradores da vila, resigna-se e aceita o erro de todos. Depois pede em algum tipo de oração para que o verdadeiro ladrão se arrependa.
    A chamada "Bruxa do 71" também pratica boas ações. O espectador deve se lembrar de quando os Chaves, Quico e Chiquinha entram na casa de Clotildes e criam uma ilusão do castelo de uma bruxa. Ao término do episódio eles são surpreendidos pelo agrado de Clodiltes(um pirulito para cada).
    Dona Florinda ama incondicionalmente o filho e, observados certos aspectos cômicos, pode-se dizer que a conduta é totalmente admirável. É fato que Dona Florinda tem uma relativa postura agressiva, mas o que se esperar de uma senhora que não sabe o destino do esposo marinheiro e zela pelos "bons costumes"? Não seria tão simples para Florinda se envolver sexualmente com outro homem pois não há certeza de que ela é viúva.

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    1. Continuando novamente...

      O destaque para o termo "bons costumos" veio em momento oportuno visto que o seriado Chaves não apresenta apenas condutas virtuosas de suas personagens.
      Dona Florinda utiliza demasiadamente o termo "gentalha" e o transmite ao filho. Esta conduta, assim como outras, mostra a possível dinâmina da série. Todas as personagens são dotadas de "vícios e virtudes
      Exemplifiquemos mais: existe um episódio em que o honrado Professor Girafales perde a sua ética. Chaves está sendo julgado por atropelar o animal de estimação do Quico, mas é "absolvido" por Girafales no momento em que iria dizer que atropelou o animal para se desviar de um homem que estava parado feito "bocó na rua" vendo a mulher bonita. Este homem não precisa de ser revelado... A despeito de Jaiminho, há uma questão importante a ser observada: ao passo que realmente a atividade mediúnica é desgastante(alusão feita por Ademir Luiz), as cartas deveriam seguir a o caminho inverso. São os mortos que falam com os vivos; nao o contrário. Também deve-se observar que Jaiminho é um funcionário público e, observado o estigma de um, verifica-se que ele adota a lei do menor esforço...
      Em relação às combinações numéricas, torna-se importante verificar que o infinito representa mais adequadamente a vida. Um ciclo sem fim. A vida em si, pode ser considerada infinita; não a morte. Abstenho-me de dizer sobre as outras combinações númericas pois não disponho de conhecimentos adequados.
      O caráter cíclico da obra pode ser interpretado unicamente como uma produção artística com características de novela(sim, novela cujos capítulos são, em geral, independentes)aliada ao carater cômico.
      Existem outros argumentos interessantes contra a tese de Ademir, mas este texto já está demasiadamente grande.
      Em suma, o seriado Chaves pode ser visto como uma representação da condição humanana: traquinagens, instintos primitivos, ou melhor, de sobrevivência(como a fome), atitudes louváveis e outras mais secundárias.

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    2. Obrigado por suas observações. Eles são bastante enriquecedoras. Fiquei muito feliz em lê-las!

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  11. Da série: gente que não entende que o texto é só pra ser divertido...

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    1. Gente que não entende que é só um seriado de humor...

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    2. Gente que não entende que é inspirado em Sartre e que é sim só um seriado de humor, e é só uma crítica social, mas é o inferno também, porque esta é a dinâmica sartreana de elaborar suas tramas

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