domingo, 18 de maio de 2014

Pode a arte influenciar comportamentos? Os casos de Werther, Anna Karenina, Domingo Sombrio e Ozzy Osbourne.

Em 1933, o húngaro Rezsoe Seress, após uma decepção amorosa, compôs “Szomorú Vasárnap”, título que pode ser traduzido em português como “Domingo sombrio”. Trata-se de uma canção que, conforme atestado no vídeo acima, fala da tristeza da ausência da amada, além de ter como tema a consciência extremamente desencantada de uma sociedade em crise. Seu final é bastante emblemático: “o mundo acabou”. O fato é que essa peça começou a ser associada a muitas histórias sensacionalistas, algumas sem comprovação: a amada de Seress, que o havia dispensado, pôs fim a sua própria vida, sendo encontrada morta ao lado de um papel com a transcrição da letra da música em questão; uma onda de suicídio teria sido desencadeada então na Hungria e em outras partes do mundo por onde “Szomorú Vasárnap” passava; a BBC havia proibido a execução da tradução dessa canção em 1940; no ano seguinte, Billie Holiday gravava nos Estados Unidos a versão “Gloomy Sunday” (fato), após uma intensa campanha de marketing (fato) que atribuía à obra o título de “a música mais triste do mundo” ou de “a música suicida”, ajudando a trazer à baila muita invenção típica de lenda urbana. Por fim, em 1968, Seress atirou-se de um prédio, livrando-se do peso que essa obra representava sobre seus ombros.


 Quando se fala na influência de “Szomorú Vasárnap”, aqueles que estão familiarizados com o universo da música pop lembram-se imediatamente de “Suicide Solution”, do álbum que Ozzy Osbourne lançou em 1980, Blizzard of Ozz. Não se tem certeza do que inspirou essa composição. Há quem diga que ela se refira às crises de alcoolismo do próprio cantor. Outros afirmam que se refira a um seu companheiro de rock que encontrou a morte graças a esse vício. Mas o fato que pesa contra essa peça é que em 1984 o norte-americano John McCullom, de 19 anos, suicidara-se ouvindo a música desse roqueiro. Apesar de o jovem estar escutando no seu quarto o álbum Speak of the Devil (1982) no momento em que deu fim à vida, seus pais alegaram que ele havia ouvido antes na sala Diary of a Madman (1981) e o fatídico Blizzard of Ozz. Foi o suficiente para que entrassem com processo contra o músico e a gravadora, alegando que “Suicide Solution” é que havia exercido nefasta influência. Gente que não entendeu o jogo ambíguo de palavras: “suicide solution”, ou “solução suicida”, é uma referência à bebida, solução (no sentido de líquido em que se dissolve algo, seja outra substância, seja algum problema da vida) que lentamente conduzia à morte – e tomá-la com consciência desse risco era uma atitude suicida. No fim, o artista ganhou a causa, mas não se pode esquecer que esse acontecimento, além de ter dado notoriedade ao que ele produzia, pôs à tona uma questão: pode a arte influenciar comportamentos?


Antes que se levante a hipótese de que uma interferência perniciosa só poderia vir de arte de baixa qualidade, qualificação que o senso comum (que nem sempre tem conhecimento da verdade...) costuma atribuir à produção voltada às massas, deve-se lembrar o exemplo de Anna Karenina, romance que o russo Leon Tolstói publicou em 1877. A protagonista que dá nome ao livro suicidou-se atirando-se à frente de um trem que chegava à estação, o que inspirou muitas moças da época, igualmente descontentes com a vida, a praticarem o mesmo ato.


Entretanto, o exemplo mais famoso nesse campo é Os Sofrimentos do Jovem Werther, romance que Goethe publicou em 1774 e que alguns diziam que possuía um caráter autobiográfico: o autor também fora apaixonado por uma mulher chamada Carlota, noiva de um amigo. A influência que essa obra exerceu pode ser primeiramente percebida no fato de a vestimenta do protagonista, casaca azul e colete e calça amarelos, ter passado a ser item essencial para os jovens de então. Mas a força dessa obra foi além do vestuário. Werther matou-se ao perceber que não ia conseguir realizar o seu amor. Boa parte dos leitores dessa obra resolveu fazer o mesmo, o que acabou gerando a maior onda de suicídio que a Europa conheceu.

Werther, personagem de Goethe.

Mas o que é útil aqui não é se a arte tem realmente tal poder sobre o comportamento das pessoas a ponto de fazê-las deixar de enxergar validade na existência. Mais importante é entender porque alguns, inspirados no que ouvem, veem ou leem, entregam-se à turbulência de um romance, de um filme ou de uma música, passando a imitá-los. O que se quer colocar em pauta, portanto, é que esses são exemplos do que muitas vezes se falou nO Magriço Cibernético: o texto é uma articulação de ideias que se dá tanto interna quanto externamente. Assim, é certo que esses autores utilizaram experiências pessoais na construção de suas obras. Entretanto, deve-se lembrar que, como antenas da sociedade, captaram o espírito de seu tempo, o zeitgeist. Goethe sintonizou a desestabilização da mudança do mundo antigo para o atual, o que era a base de toda a efervescência romântica. Tolstói provavelmente acumulou em sua obra as suas inquietações de se ver em meio a uma Rússia czarista, que queria ser Europa, mas que no fundo se comportava como um universo à parte (até hoje...). Seress sentiu a angústia do Entre Guerras, a agonia de ser tragado pela iminência de um apocalipse, além do desencanto ao ver que a tão ansiada promessa de um mundo melhor não viera, como bem expressara Drummond em “A Flor e a Náusea” (1945):

Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.

Ozzy verbalizou em sua letra maldita o mal-estar de uma sociedade norte-americana que ainda não havia cicatrizado as feridas do Vietnã e que tinha sido humilhada pelo que ocorrera na embaixada no Irã, sem mencionar a crise econômica que arranhava o poderio dessa nação. Essa música acabaria por vaticinar, pois, o clima que dominaria toda a década de 1980, marcada pelo caráter sombrio de darks, góticos, metaleiros e que acabou tão bem sintetizado na estética sem sorriso de Blade Runner (1982).
Dessa forma, o que essas obras provam é que a arte, como produção histórica (diriam os marxistas) ou como total expressão do self (como diriam os junguianos), é fruto de articulações múltiplas. Por um lado, é a expressão de angústias pessoais. Por outro, é fruto do que o espírito de um tempo imprime no seu autor, que acaba digerindo-o e devolvendo-o ao seu meio. Nesse ponto, cria-se uma via de mão dupla: ao mesmo tempo em que a um trabalho estético influencia o indivíduo, este também o influencia. Em outras palavras: a arte influencia comportamentos, mas é também influenciado por eles. Compreender esse jogo é entender a beleza da dinamicidade de um texto.



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domingo, 11 de maio de 2014

Viagens na Minha Terra: afinal, do que fala esse livro?

Ilustração de Carlos e Joaninha por Paulo Ferreira para a edição de 1946
da Liv. Tavares Martins de Viagens na Minha Terra

Viagens na Minha Terra começou a ser publicado em 1843 na forma de folhetim, ou seja, seriadamente na Revista Universal Lisbonense, mas teve sua edição suspensa, o que já é um sinal de que desde o início era uma obra cercada de dificuldade de aceitação entre o grande público. Em 1846 aparece na forma de livro, tornando-se uma obra ímpar no contexto português, mas filiada a uma tradição que reúne Laurence Sterne na Inglaterra, Xavier de Maistre da França e Machado de Assis no Brasil. Entretanto, apesar de ser um dos monumentos da literatura em nossa língua, seu contato é muito penoso para os vestibulandos, o que o faz ser companheiro de A Cidade e as Serras, de Eça de Queirós, na lista das obras com maior índice de desistência de leitura.
A tarefa árdua dos estudantes na apreciação de Viagens na Minha Terra se deve ao caráter intensamente digressivo da obra. Tem-se a impressão que ela fala de tudo, vai para todas as direções, sem se chegar a lugar algum. O jovem valoroso que finalmente consegue chegar até a metade do livro tem um vislumbre de que há três histórias principais (a da viagem de Garrett até Santarém, a do amor entre Carlos e Joaninha e a da Guerra Civil Portuguesa), mas todas elas desconexas, ainda mais quando são somadas a todas aquelas considerações sobre monumentos portugueses, a diferença entre o homem do campo e o homem do litoral, escritores como Dante, Byron, Camões, figuras políticas como Marquês de Pombal, econômicas como o barão de Rothschild, literárias como Dom Quixote e Sancho Pança...
Nesse ponto, toca-se numa ponta da meada (imagem muito comum e igualmente importante para a compreensão da lógica do romance) que, se puxada, desembaraça toda essa complicação: a oposição entre Dom Quixote e Sancho Pança. Trata-se de duas personagens do romance Dom Quixote (1605) do espanhol Miguel de Cervantes, considerada uma das obras fundamentais da literatura mundial. O que elas representam para Garrett é explicado por uma longa digressão (mais uma...). O protagonista que dá nome ao romance hispânico é um homem que, de tanto haver lido novelas de cavalaria, enlouqueceu a ponto de imaginar que era um cavaleiro andante a continuar as aventuras que havia visto nos livros. Alienado nesse mundo de fantasia, destaca-se em uma cena famosíssima, aquela em que luta contra moinhos de vento, pois imagina que eram gigantes. Na lógica de Viagens na Minha Terra ele passa a representar o idealismo, valor muito caro à literatura romântica. Mas essa personagem tem como companheiro o escudeiro Sancho Pança, mais preocupado com questões práticas ligadas à sobrevivência imediata. Representa o materialismo, ou, na lógica do romance de Garrett, o pragmatismo, o utilitarismo, tão caro aos burgueses que se alimentaram e se aproveitaram do Romantismo.


Nesse sentido, o grande tema de Viagens na Minha Terra é o conflito entre idealismo e pragmatismo. Trata-se de uma questão bastante dolorosa não só para a pessoa Garrett, mas também para sua materialização na figura do narrador, assim como para Carlos, Portugal, a sociedade em que estão mergulhados e até o próprio Romantismo. Deve-se lembrar que esse movimento, fruto das expectativas com relação aos ideais da Revolução Francesa, pena uma profunda decepção ao descobrir que essa mudança social serviu apenas para que a burguesia subisse ao poder, sem sanar antigos problemas. Pior: abriu caminho para mais um tirano como tantos outros – Napoleão. Decepção semelhante é vivenciada por Garrett, que participara da Guerra Civil Portuguesa em nome da modernidade representada pelo liberalismo, que de fato vencera. No entanto, a sociedade que ele via à sua frente era a do materialismo, do pragmatismo burguês, mais preocupado com o lucro do que com grandes ideais. É por isso que o autor vive reclamando do abandono em que se encontram grandes monumentos ligados à História e aos Ideais lusitanos. O autor e Portugal lutaram por isso? É nesse sentido que se deve também encaixar a tragédia de Carlos, que em muito se assemelha à do autor. Também lutara por seus ideais, mas acaba descobrindo ser filho de tudo o que há de mais reacionário em seu país. Seu destino é também o pragmatismo: torna-se barão, ou seja, um homem voltado para a especulação financeira, carreira na qual obtém tanto sucesso que pode até se tornar deputado, o que significa que influenciará (negativamente) os rumos de sua pátria.
O drama de Viagens na Minha Terra mostra-se singularmente bastante atual, pois vivemos uma época em que nobres questões éticas soam como vazias. Recentemente vimos o presidente Bush comandar uma invasão ao Iraque sob o pretexto de que lá havia armas de destruição em massa, fato não comprovado. Ainda assim, fora reeleito. Quando a economia do país que comanda economia degringolou, não conseguiu fazer eleito o seu candidato. Aqui no Brasil, políticos veem-se cercados de escândalos de corrupção e incompetência, mas enquanto a economia está bem, são eleitos e reeleitos. Quando as questões pragmáticas, quando a ração do “povo marcado e povo feliz” fica comprometida, os índices de popularidade caem a níveis preocupantes. Como dizia o Velho do Restelo, em Os Lusíadas, “mísera sorte, estranha condição” a humana.



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domingo, 4 de maio de 2014

Star Wars: a força que está conosco

4 de maio foi escolhido para se celebrar o universo Star Wars por um motivo bastante simples: em inglês, a expressão que nomeia essa dia, “May the fourth” (May, 4th) é parônima do começo de “May the Force be with you” (“Que a Força esteja com você”), frase emblemática dessa saga de ficção científica. Assim, vislumbra-se o poder dessa criação de George Lucas, pois um simples trocadilho é capaz de movimentar milhões de pessoas em torno de uma data quase que fortuita.
Não se pode negar o lado financeiro desse feito, que é respeitável. Pode não ter sido Lucas o descobridor, mas com certeza foi ele quem consagrou essa veia lucrativa que é uma franquia. O cinema aprendeu a faturar não apenas com bilheteria, não apenas com sequências, mas também com produtos ligados ao filme, desde álbuns de figurinhas, brinquedos, miniaturas, livros, quadrinhos, trilha sonora... Trata-se de uma verdadeira fábrica incansável de fazer dinheiro. E quando se pensa que ela vai parar, volta com mais força, seja na reedição dos filmes mais velhos, seja na estreia da animação, seja na publicação de versões em 3D, seja no lançamento de mais uma trilogia, ansiosamente aguardada e certamente tão rentável quanto as duas anteriores.
  


O poder de Guerra nas Estrelas é tanto que vai além da sala de cinema. Basta lembrar que inspirou o nome de um projeto de defesa dos Estados Unidos. Basta lembrar que a filosofia jedi já é vista como uma religião e com milhares de adeptos. Basta lembrar o frisson provocado pelo anúncio da nova trilogia, que consagrou o termo “prequel” (ou “prequela”, como querem os puristas). Basta lembrar que o lançamento do Episódio I: A Ameaça Fantasma (1999) ocupou espaço amplo na imprensa, sendo capa da Veja, Época, Istoé, recebendo até cobertura da CNN. Basta lembrar que os fãs lotavam salas de filmes pouco memoráveis apenas para assistir aos trailers de Star Wars, e nada mais, provocando uma debandada antes da exibição da peça principal.
Não há como negar, entretanto, alguns aspectos negativos. Guerra nas Estrelas nunca ganhou um Oscar de renome, somente os de categorias técnicas. Sua bilheteria foi batida, por exemplo, por Titanic (1997), Avatar (2009). Além disso, o Episódio I: A Ameaça Fantasma causou uma grande decepção entre o público. Talvez porque a expectativa fosse muito grande. O universo Star Wars já estava disseminado no imaginário de milhões, entrando naquele campo mítico ou platônico de nossa estrutura mental, do qual muitas vezes nada deveria sair. Ver o ideal se realizando é chance certa de frustração, ainda mais quando o filme é sobre uma criança interpretada por alguém sem o talento de um Haley Joel Osment em O Sexto Sentido (1999). O que havia de emocionante nesse episódio? O início, com o encontro dos negociadores jedis com os representantes da Federação Comercial, a competição de pod racer (inspirada na corrida de bigas em Ben Hur, de 1959), o tour pela capital Coruscant, o contato com o Senado e o Conselho Jedi, e a batalha final. Fora isso, um atoleiro de marasmo. E que vilão mais insosso era aquele Darth Maul? E quem explica Jar Jar Binks? A impressão que se ficou era a de que ocorrera muito espetáculo, muito luxo, muito efeito especial para pouca ação. Paralelo a essa frustração veio o sucesso de Matrix (1999), que inaugurava uma trilogia que, muitos diziam, abria uma nova era para a qual não existia mais espaço para Star Wars.
Hoje, Matrix já não está mais moda. Titanic não causa mais agitação. A novidade de Avatar parece que já ficou datada. Mas Guerra nas Estrelas continua vivo, como a data de hoje demonstra, fazendo esse universo não se circunscrever aos que eram crianças e adolescentes nos idos de 1978. Até adolescentes de 2016 se veem fissurados nessa saga. Mas como explicar a longevidade desse sucesso?

 


Não há como negar que houve um senso de oportunismo de Lucas. Em primeiro lugar, sua obra é um pastiche de elementos culturais. Encontramos nela referências ao western, às histórias de kung fu, de samurais, a Flash Gordon, ao clássico 2001 (1968), de Stanley Kubrick, à cultura indiana... Mas há que se lembrar também que o cineasta  soube adaptar-se aos novos tempos, sem manchar o caráter mítico de sua saga. Se na passagem dos anos 1970 para 1980 cabia muito bem uma história maniqueísta, mostrando o embate entre o Império e a Aliança Rebelde, na nova trilogia houve um amadurecimento notável. O conflito que deu origem à história do Episódio I: A Ameaça Fantasma tem ingredientes de embargo econômico, sanções, bloqueio de fronteiras, democracia minada por corrupção, negociações políticas infindáveis que não resolvem problemas sociais. Assuntos atualíssimos. O Episódio II: O Ataque dos Clones (2002) até mexia com um tema palpitante, a clonagem – mas ele já havia sido anunciado no Episódio IV: Uma Nova Esperança (1977). Ainda assim, sua contemporaneidade se vê nas referências constantes a ataques terroristas que padecem sobre Amidala. Mas tudo começa a ficar mais sério quando se nota que uma guerra está sendo engendrada só para que o senador Palpatine ganhe poder. Quem seria louco para se beneficiar de um conflito sangrento, iludir toda uma nação e se tornar onipotente? Nesse momento, nosso senso crítico daria um sinal de alerta, recorrendo a tantos governantes na história de nossa civilização.

 

Entretanto, o ápice desse tipo de oportunismo virá com o mais maduro de todos os filmes, o Episódio III: A Vingança de Sith (2005). É nele que se percebe o conflito entre o pragmatismo capitalista, alegorizado no Império, e o bem-estar individual, alegorizado na filosofia jedi. Mas quando se ouve da boca do recém-decaído Anakin Skywalker uma frase que parece ter saído do Bush caçador de terroristas (“Ou você está comigo, ou você está contra mim.”), a ponte com o contexto histórico-social fica mais clara. Aliás, profundidade é o que esse filme tem de sobra em relação aos outros, principalmente nos questionamentos filosóficos quanto à fronteira entre o bem e o mal (Pode-se fazer algo errado em nome do bem? E pode-se fazer algo certo em nome do mal?), o que leva o protagonista a uma crise sem retorno. Os temas ingênuos da infância estavam então sepultados. E o tom fúnebre com que o filme se encerra parece servir também ao final doloroso de todo o clima feérico que a trilogia carregava. É inquestionável: sai-se dessa película com um mal-estar. Belo, mas terrível.

   

Entretanto, Star Wars vai muito além dessas alegorias ao contexto histórico em que está inserido. Há algo de mais profundo, e temos uma noção do seu alcance quando se tem em mente a formação de George Lucas. Sabe-se que esse cineasta foi aluno de Joseph Campbell, antropólogo que estudou a estrutura dos mitos de várias culturas. Ele é que deve ter ensinado o dono da poderosa franquia a entender que o que nos fascina em tantas histórias, por mais fabulosas que sejam, por mais antigas que sejam, é que no fundo elas falam de nós mesmos. Assim, Guerra nas Estrelas é uma fábula de ficção científica a nos ensinar que, ainda que o avanço tecnológico seja notável, a ponto de destacar o papel da máquina, o mais importante, a fonte de todas as mudanças é o homem. E o grande tema campbelliano, a jornada do herói, nada mais é do que a busca de nossa realização interior, que passa por um processo de descoberta, tentação, queda e, o que é mais glorioso, redenção. O mal está em toda parte. Como dizia o apóstolo Paulo, os soldados da malignidade são muito mais eficientes, o que se comprova pela facilidade com que o que é ruim toma conta do mundo. Isso significa que somos propensos à degradação, que nossa essência má é latente e forte. Mas saber que, por piores que sejamos, podemos nos resgatar é muito gratificante. E é isso que os seis episódios de Star Wars nos mostram. Por isso seu aspecto apaixonante.


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FUVEST-UNICAMP 2015.
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