domingo, 15 de abril de 2012

"Pobreza Pega" - a mensagem das entrelinhas

Sabe-se que um texto ganha sentido pela articulação que há entre os elementos que o compõem. Além disso, sua significação também é garantida pelo contexto histórico-social em que se insere. Mas um ponto interessante e bastante válido para a eficiência de leitura está na observação das mensagens que ficam nas entrelinhas, que falam muito mais do que o que está sendo explicitamente dito. Assim, por exemplo, quando escritos antigos dizem que a mulher deve respeitar o marido, isso é um sinal de que há esposas que não se dedicam a essa prática; do contrário, não haveria necessidade para a existência de tal pregação.
Com base no que se está afirmando, o que pode ser detectado nas entrelinhas do vídeo acima?  Chama a atenção nele a repetição intensa de duas frases: “Eu sou rica!” e “Pobreza pega”. E tudo acompanhado de uma sequência de vilãs de telenovelas, na maioria abastadas, mas todas donas de grande aceitação e até de seguidores. Mas essa é a mensagem explícita. O que há de implícito?
Essa peça do DJ Rafael Lelis e do VJ José Del Duca exibe uma rejeição exagerada à pobreza e uma necessidade imperiosa de ostentação que revela a típica insegurança de quem quer se firmar – ou porque ainda não está no lugar que pretende, ou porque acabou de chegar nele. Pode até não ser a tibieza das personagens, mas é a de considerável parte do público que as venera. Assim, de certa forma, elas acabam canalizando anseios sociais. Explica-se.
O caminho mais fácil (e ilusório) para se ganhar dignidade em nossa sociedade é o dinheiro. Ilusório porque, no fundo, está se respeitando o dinheiro, não o seu proprietário. Por isso, não basta ter – é preciso ostentar. Até de maneira gritante. Mesmo que muitas vezes não se tenha condições para tal, mesmo que para tanto se atole em dívidas. E nossa pobreza – não exatamente a econômica – faz com que essa estratégia exibicionista funcione. Basta notar o sucesso que esse ingrediente obtém em telenovelas e, inclusive, em reality shows.  No fundo, trata-se de uma riqueza pobre. É só lembrar que os verdadeiros ricos, que já têm seu espaço garantido, não têm necessidade de exposição.
É útil mencionar um exemplo que reforça o que se está expondo. No final do ano passado, o filósofo Alain de Botton esteve no Brasil para divulgar seu livro, Religião para Ateus. Nascido na Suíça e residente na Inglaterra – dois países riquíssimos – ele ficou admirado com a ostentação da emergente São Paulo, onde encontrou pessoas que falavam com “naturalidade” que haviam acabado de chegar em seus helicópteros, um papo que ele nunca chegou a ouvir em Londres, cidade há séculos reconhecida como rica.
Não se está caindo na velha questão do conflito entre riqueza de berço e riqueza emergente, que remonta ao embate entre nobreza e burguesia do século XVIII ou antes e tão bem ilustrado na literatura romântica: a velha classe critica a falta de estirpe da nova classe e esta condena o jogo de pose daquela. Nenhum dos dois lados está certo. O que se está questionando é o sucesso que esse tipo de personagem esnobe e vilã obtém. Uma fama forçada. Banal. Fútil.
A ostentação de riqueza que tais personagens praticam atende aos anseios de setores sociais que por muito tempo andaram subjugados e que agora, por causa da ascensão econômica recentemente obtida, estão conquistando seu espaço. Mas ainda o fazem de forma insegura, o que revela a necessidade de “esfregar na cara” de todos o status que adquiriram. E, segundo estudiosos, há dois grupos que possuem integrantes (não se está falando de totalidade, mas de parcialidade) que mais se utilizam desse expediente: gays e negros. Do primeiro saem os que mais se identificam com o vídeo acima. Do segundo, os que mais se identificam com o tipo de produção como a do vídeo abaixo, o bling bling rap.
Com base em tudo o que foi exposto, analisando o clipe a seguir você seria capaz de identificar que mensagens estão nas entrelinhas e que provavelmente não fazem parte da intenção explícita de seu produtor?

2 comentários:

  1. Eu já li que anel é antihigiênico pq acumula resíduos, células mortas e afins. Agora.... PQP, imagina o fedô dessas dentaduras!!! KKKKKKKKKKKKKKK

    É como dizem: "Nem tudo que reluz é ouro"

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  2. "é preciso ostentar. Até de maneira gritante. Mesmo que muitas vezes não se tenha condições para tal, mesmo que para tanto se atole em dívidas." esse tumblr aqui http://classemediasofre.tumblr.com/ resume bem isso. Voce pode rir, chorar ou se identificar.

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