domingo, 10 de agosto de 2014

Texto: cuidados necessários em sua construção



Um conceito que não pode ser deixado de lado durante a leitura é o de que texto nunca se constitui com um simples amontoado de palavras, ideias e frases. Seu sentido se estabelece por meio da ligação que esses elementos estabelecem entre si e com o contexto histórico-social em que estão inseridos. Deve ser, portanto, entendido em seu conjunto, nunca em suas partes isoladas. Trata-se de um fato de grande importância, por isso foi várias vezes repetido nO Magriço Cibernético – e muitas mais vezes ainda o será. Esquecê-lo pode provocar sérios problemas não só na leitura e interpretação, mas também na redação, como o que ocorreu na propaganda acima (Revista Linha Direta, setembro de 2013, p. 77).
Em um primeiro momento, a mensagem é bastante simples. Há três fases em que uma instituição pode estar: uma inicial, representada por um livro pequeno de conto de fadas; uma intermediária, representada por um livro mediano sobre história da arte; e uma avançada, representada por um livro grande sobre gestão de negócios. O tamanho da publicação indica o estágio em que se encontra a empresa: básico, intermediário ou avançado. Dessa forma, a Totvs propõe-se a ajudar na gestão dessas firmas, apresentando propostas tecnológicas que se adaptem ao nível em que se encontram. Daí a associação de um pequenino livro de contos de fadas ao ano 1 e o de um volumoso de gestão de negócios ao ano 4.
O problema é que a ligação entre os elementos que compõem essa peça publicitária abre caminho para outra sorte de ideias. O que mais chama a atenção é considerar como conhecimento de nível intermediário o relacionado à história da arte, enquanto o de gestão de negócios é mostrado como avançado. É certo que se trata de um conceito bastante difundido em nossa sociedade, que valoriza o lucro, muitas vezes em detrimento de questões mais humanas. No entanto, é estranho que esse pensamento apareça em uma revista da área de educação, já que seu público (teoricamente) não lida com preconceitos – o que o anúncio acaba veiculando, mesmo que inadvertidamente. Arte não é um conhecimento menor em relação à administração financeira. Aliás, uma boa publicação de historiografia estética é bem mais volumosa do que à de gestão de negócios apresentada. Além disso, o próprio conhecimento sobre os contos de fada ocuparia livros bem mais extensos. Basta ler Bruno Bettelhein com o seu A Psicanálise dos contos de fadas ou Marie-Louise von Franz com o seu A sombra e o mal nos contos de fada.
Essas considerações permitem entender, portanto, que a articulação de elementos é o que dá sentido a um texto. Manipulá-los de forma desajeitada, seja na leitura, seja na redação, pode gerar, como se observou na propaganda acima, problemas indesejados na comunicação.


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2 comentários:

  1. Considero limitada a pessoa que põe um livro específico como esse que trata de gestão de negócios à frente de um conhecimento que todos precisamos ter - a história da arte - e de outro que faz parte de nós (contos de fadas).

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    1. Gostei de teu raciocínio: como algo tão específico pode ter mais importância do que algo que serve para todos?

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