quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Texto - considerações básicas

É importante fixar uma ideia: o conceito de texto. Um amontoado de ideias por si só não constitui um texto. Assim, na análise do quadro do post anterior (O Despertar da Inocência), um gato brincando com um passarinho não significa o predador que não prende sua presa. Só pode simbolizar isso dentro daquele contexto em que se encontra, graças à ligação que estabelece com outros elementos presentes na pintura.
Para que tudo fique mais claro, é útil lembrar que a palavra texto tem a mesma origem do vocábulo tecido. Tendo o mesmo nascimento, carregam sentidos semelhantes. Todo tecido é feito de um conjunto de fios. Mas não basta que esses existam – é necessário que se garanta uma coesão entre eles. Tanto que se a ligação é fraca, o tecido se esgarça, se desmancha, em suma, não se mantém inteiro. O mesmo ocorre com o texto. Ele não é apenas um amontoado de palavras, frases, orações, períodos – é necessário que haja uma ligação entre os elementos que o compõem. E quanto mais fortes essas junções, quanto mais coesas, mais eficiente se mostra o texto.
Para exemplificar o que se expõe aqui, basta usar a propaganda acima da Kaiser. Nela notamos vários elementos que, ligados fortemente entre si, vão constituir uma mensagem que, no exíguo período de trinta segundos, venderá mais do que um produto – venderá um conceito, um comportamento, um estilo de vida. Essa é a grande e diabólica capacidade de um comercial.
Para começar, vale notar como a cor predominante no logotipo da Kaiser está presente nas peças de roupa diminutas das modelos. Estabelece-se uma aproximação entre a sensualidade das mulheres e o produto que pretende ser vendido. Quem degustar a Kaiser, vai poder também desfrutar essas beldades. É um raciocínio idiota, mas infelizmente eficaz, tanto que hoje não é permitido aos comerciais de cerveja usarem esse tipo de estratégia que crie empatia com o telespectador.
Para provar que não se está exagerando na análise, necessário se faz buscar outros fios que, ligados à ideia que acabamos de apresentar, confirme o exposto. A cor da roupa das moças e da Kaiser – vermelho – é bastante apelativa. Ela atiça a nossa vontade. Tanto que é a cor presente na quase totalidade dos logotipos de lanchonetes, principalmente as fast food. É um ataque sagaz que se faz ao nosso subconsciente, elemento que comanda boa parte de nossas vontades e comportamentos.
Além disso, os gestos que elas fazem, cheias de caras e bocas, revelam sensualidade. Ainda mais que realizam tudo muito lentamente, ilustrando a frase ambígua que dá título ao comercial: devagarzinho tudo é mais gostoso. Se até aqui a mais ingênua das criaturas se recusa a admitir que a sexualização está sendo intensamente utilizada para a venda do produto, pede-se que se veja a cena final do comercial. Todo bom conhecedor de cerveja sabe que uma garrafa dessa bebida não pode ser segurada no bojo. E por que a sensual modelo o faz? Por fim, é crucial notar a posição em que ela deixa o vasilhame. O grand finale é a imagem que sugere uma mulher satisfeita diante de um falo igualmente satisfeito.
Enfim, deve-se ter sempre esse ponto em mente – um único aspecto não é capaz de dar sentido ao texto. Não é porque se usa o vermelho que se está fazendo um apelo sexual. Mas a utilização do vermelho entre tantos outros elementos arrolados acima é que acaba criando a sensualização da propaganda da Kaiser. Em resumo – nunca é demais repetir – um texto se faz pela ligação estabelecida entre os diferentes elementos que o compõem.
Para reforçar tudo o que se apresentou aqui, O Magriço Cibernético vai se valer de um outro comercial de outro setor poderosíssimo que eficientemente tem se utilizado de técnicas propagandísticas para incentivo ao consumo: o automotivo. Basta lembrar que um carro é apenas um instrumento de locomoção, nada mais. Entretanto, graças à eficiência da publicidade, há décadas ele tem se transformado em um ideal de vida a ser buscado. Que elementos você consegue identificar no texto apresentado abaixo que contribuem para a transmissão da sua mensagem?

3 comentários:

  1. O comercial demonstra que estando com o carro, dentro do carro, tudo é perfeito, tudo está bem.
    Mais uma vez bela analise e belo post professor :)

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  2. O carro é sinal de classe, perfeição, harmonia, a musica completa perfeitamente e inclusive faz um grande papel. É como se o carro fosse algo diferente do mundo e somente com ele você consegue estar em uma atmosfera de paz e felicidade. Portanto ele deve ser comprado por proporcionar a tão almejada felicidade.

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  3. Gostei muito do blog, parabéns pelo seu trabalho, você é um excelente professor! Gosto muito de suas aulas.

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