sábado, 21 de janeiro de 2012

Livros da FUVEST-UNICAMP 2013 - Considerações

Jean-Baptiste Chardin, O Filósofo Lendo (1734).

Nesta quinta-feira, 19.01.2012, FUVEST e UNICAMP divulgaram sua lista de livros de literatura para os exames de 2013.  Alguns comentários podem se mostrar bastante válidos a título de primeira orientação de leitura e análise dessas obras.
Viagens na Minha Terra (1843), de Almeida Garrett, já fora cobrado pela FUVEST no início dos anos 90. Trata-se de um romance português bem humorado e criativo, que segue a trilha aberta pelo francês Viagem ao redor do meu quarto (1794), de Xavier de Maistre, e pelo inglês Tristam Shandy (1759), do Lawrence Sterne – o uso constante de digressões que dão a impressão de que o livro não tem um assunto central. É uma forte característica também encontrada em Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), de Machado de Assis, que também volta para esses vestibulares. A grande diferença é que, enquanto aquele livro é romântico e vem bem temperado pelo nacionalismo e idealismo, este é realista e, acompanhado do saboroso estilo machadiano, permite uma análise ferina das relações sociais brasileiras, além do contato com uma visão amargurada sobre a existência humana.
Outro autor que volta para a lista de livros da FUVEST e UNICAMP é Carlos Drummond de Andrade, desta vez com Sentimento do Mundo (1940), livro em que o poeta, fortemente sintonizado com os problemas de seu tempo, produz textos em que a preocupação com os problemas sociais vem acompanhada de uma esperança na solidariedade como saída para a crise.
Uma novidade negativa é a presença de Til (1872), de José de Alencar. É um romance regionalista leve que apresenta idealização do interior do Brasil, exposto como região agradável na qual os mais autênticos valores nacionais estariam preservados. Não é uma obra relevante do autor, a ponto de ser colocada na lista de dois dos vestibulares mais importantes do país. O ideal seria preservar Iracema (1865) ou então, se a mudança se mostrasse realmente necessária, trocar por Senhora (1875). Há, portanto, muito que se descobrir ainda sobre esse livrinho chocho.
Outro ponto a se lamentar é a saída do Auto da Barca do Inferno (1517), de Gil Vicente, obra riquíssima, apesar da simplicidade de seu formato. Há que se lamentar, também, a permanência de A Cidade e as Serras (1901), do português Eça de Queirós. Sua crítica, bastante atual ainda, sobre temas como progresso, ócio endinheirado, socialismo, sebastianismo, paternalismo é muito boa. Entretanto, isso não disfarça um problema sério: o livro é inadequado para o público recém-saído do Ensino Médio. Seria muito mais louvável e acessível trazer de volta o excelente O Primo Basílio (1878), do mesmo autor. É sabido que o bom adolescente lê até com empolgação esse romance.
Outro elemento questionável é a permanência de Capitães da Areia (1937). Não é a melhor obra de Jorge Amado. Se FUVEST e UNICAMP focaram o aspecto social, poderiam ter selecionado Mar Morto (1936); se focaram o estilístico, poderiam muito bem ter escolhido A Morte e a Morte de Quincas Berro d’Água (1959). Mas é bastante convincente o argumento de que é um romance de forte apelo ao público adolescente – tornando-se, pois, antípoda de A Cidade e as Serras.
O que alivia é saber que permaneceram também obras importantíssimas. Memórias de um Sargento de Milícias (1852), de Manuel Antônio de Almeida, por exemplo, é excelente ao permitir que se visualizem os costumes da sociedade brasileira, marcada pela malandragem e flexibilização da ética.  O Cortiço (1890), de Aluísio Azevedo, mostra a gana de um português que quer enriquecer a qualquer custo e que acaba se tornando uma metáfora do capitalismo selvagem. O contato com as personagens desse romance e com suas mazelas já é uma experiência enriquecedora. Além disso, Vidas Secas (1938), de Graciliano Ramos, é um monumento de obra que por si só já seria capaz de enaltecer a lista de livros da FUVEST e da UNICAMP. Ao abordar uma família de miseráveis que se torna migrante por causa da inclemência da seca, o autor alagoano acaba abordando temas dolorosos da existência humana, como opressão, submissão, dificuldade de expressão e afetividade, entre outros.
Enfim, no geral a lista de livros da FUVEST e da UNICAMP para 2013 se mostra muito boa. Há dois ou três livros de qualidade literária ou mesmo eficiência pedagógica questionável, mas suas deficiências são compensadas pela grandiosidade das demais obras. O que importa, entretanto, é que no decorrer do ano todos eles serão discutidos aqui nO Magriço Cibernético.

5 comentários:

  1. Belo post Lau.
    É uma pena mesmo Cidade e as Serras não ter saído e não colocarem Senhora em vez de Til, mas fazer o que? Como eu já disse váááááriaaas vezes, EU ODEIO CIDADE E AS SERRAS kkkkkkkkkk

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    1. Dou apoio às suas palavas, Fê. Mas você nem vai mais se preocupar com isso, pois já é quase uma bichete!

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    2. E eu dou apoio as suas! Mas em todo o caso eu vou ler os livros, apenas por curiosidade.

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    3. Haha achei que era o único que não gostava de A Cidade e as Serras!

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