quarta-feira, 11 de julho de 2012

Mais Mito da Redenção: O Senhor dos Anéis e Homem de Ferro

No post passado, utilizou-se uma cena crucial em Star Wars IV – O Império Contra-Ataca (1980) para mostrar que nela se manifestava mitologicamente a ideia de que no eterno combate entre o bem e o mal muitas vezes essas duas categorias não são tão antagônicas. Não o são porque estão dentro de nós, são partes de nós mesmos. Não é à toa que o vilão da cena é pai do mocinho. Diante da revelação bombástica, que leva o protagonista a uma crise, ele se vê obrigado a mergulhar no abismo de Cloud City. É uma mensagem de que essa recolha interior é um passo vital para nosso desenvolvimento, o que de fato ocorrerá no episódio seguinte da saga, O Retorno de Jedi (1983).
Como exercício, ficou para o leitor dO Magriço Cibernético a análise do vídeo acima, edição feita de dois episódios da trilogia O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel (2001) e As Duas Torres (2002). Nele, vê-se o embate entre o mago Gandalf e o demônio Balrog, entidade que remonta a tempos perdidos. É interessante notar que se trata de um confronto inevitável, apesar de há muito temido pelo mago. É também valioso perceber que se passa dentro de uma montanha, símbolo comumente associado às profundezas do ser. Além disso, os anões haviam cavado muito além do aconselhável, o que liberou aquela malignidade – há conotações morais nesse ponto. Vale também observar como a força desse monstro está ligada ao fogo, habilidade que Gandalf domina. De fato, o fogo tem uma vasta simbologia, sendo ao mesmo tempo elemento purificador e destruidor, ao mesmo tempo o ingrediente que leva evolução ao homem (basta lembrar o mito de Prometeu), mas pode também ser a sua condenação (basta lembrar o mito do Inferno). Por fim, a ponte pela qual A Sociedade do Anel tem de passar, Khazad Dum, é mais resistente do que aparenta. Transforma-se, portanto, no perfeito símbolo da travessia, representação máxima e elevada da vida. O lado lógico diz que a existência é absurda, impossível, inútil, perigosa (“Viver é muito perigoso”, já dizia Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas (1956)), mas, se for levada com sabedoria e coragem, torna-se algo factível.
A mensagem que fica desse episódio é a de que precisamos enfrentar nossos piores medos e obstáculos. Sairemos feridos até, mas, nunca é demais repetir, desse sofrimento se conseguirá o engrandecimento como indivíduo. Trata-se, no fundo, do mito do herói em sua jornada interior de amadurecimento e fortalecimento. É o mesmo processo que se vê no vídeo a seguir, de Homem de Ferro (2008):
No vídeo acima percebemos o resultado de tudo o que se passou com Tony Stark, um playboy de enorme talento e inteligência, mas, frise-se, um playboy. Seu caráter encontra eco em muitos jovens de hoje, que vivem uma era de hedonismo inconsequente exacerbado. Com certeza muitos deles, alienadamente, se tivessem o dinheiro do protagonista, teriam o mesmo estilo de vida: festas, carrões, mulheres. Entretanto, a história do ricaço muda quando se vê preso a uma caverna no Afeganistão. Como o bíblico Jonas no estômago do peixe, esse mergulho serve para o amadurecimento em busca de um emprego mais útil de suas habilidades. Sua saída da caverna, que também possui algo de platônico, é uma caminhada para a luz da razão, da procura altruísta pelo bem-estar alheio.
Enfim, três filmes de estrondoso sucesso (Star Wars, O Senhor dos Anéis e Homem de Ferro) mostram de maneira convincente que o mergulho no precipício, nas profundezas das cavernas, nada mais é do que um passo doloroso, mas valoroso para o engrandecimento como pessoa. Não se entende por que a nossa sociedade tem medo da dor, do sofrimento que vem para a melhora de nosso caráter.

Um comentário: