Há alguns meses O Magriço Cibernético referiu-se à presença constante de mitos, ou seja, narrativas que, de maneira simbólica, metafórica, alegórica, acabam nos passando um ensinamento, em geral ligado à nossa existência. Sua estrutura, portanto, é alógica, não podendo ser entendida literalmente. Hoje vamos trabalhar, portanto, com dois exemplos famosos desse fenômeno.
Como exercício, o primeiro vídeo a ser analisado é uma cena de Star Wars – Episódio V – O Império Contra-Ataca (1980). Vemos nele o tão esperado embate entre o mocinho Luke Skywalker e o vilão Darth Vader em um inóspito local de maquinário, ferro e vento de Bespin. É bastante sintomático nesse conflito o fato de a força do mal estar de preto, não possuir um rosto, mas uma máscara, e perder o caráter humano, pois é mais máquina do que gente. É bastante sintomático também o representante do mal parecer acuar e ser mais eficiente do que o representante do bem. É bastante sintomático ainda este ter um rosto de jovem. Faz-se assim uma ligação com o público-alvo do filme, que acaba se identificando com a personagem.
Entretanto, tudo o que se apontou até aqui daria a entender que se trata de um clichê requentado, o que seria uma observação inadequada. Em primeiro lugar, os mitos, como já fora dito em posts anteriores, lidam com estruturas humanas que em qualquer parte do mundo e em qualquer época acabam sendo as mesmas. Assim, utilizam-se sempre os mesmos elementos, os mesmos motivos narrativos. O que importa na avaliação não é o conteúdo, mas como ele é passado ao receptor. Em segundo lugar, há na cena em questão algo que foge rotineiro quando se fala na “eterna luta do bem contra o mal”: o parentesco entre essas duas entidades.
De fato, quando se usa a famigerada expressão “luta do bem contra o mal”, vem logo à mente a ideia maniqueísta de que são duas categorias extremamente opostas. Foge desse padrão, portanto, a confissão de que o representante da positividade fora gerado pelo representante da negatividade. Entretanto, não é uma ideia absurda, que escapa do comum dos fatos. Vemo-la, por exemplo, nas ações que levam a redenção ao protagonista de “A Hora e Vez de Augusto Matraga”, conto de Sagarana (1946), de Guimarães Rosa. Vemo-la também em Til (1872), romance de José de Alencar que também lida com a ideia de recuperação e que está na atual lista de livros do vestibular da FUVEST-UNICAMP 2013.
Parece então que a grande mensagem é que o mais importante desse combate não é a eliminação de uma ou de outra força, mas a busca de elevação, de resgate. Lógico que, para que isso ocorra, tem que se estar preparado, tarefa para a qual Luke Skywalker não estava. Daí perder a mão e, mais que isso, o choque diante da revelação. Sua única saída foi mergulhar no abismo, símbolo também presente no “A Hora e Vez de Augusto Matraga” e Til. Essa imersão é uma metáfora do mergulho que sempre se faz em nosso próprio eu naqueles momentos de crise para que se saia dela mais fortalecido. É o que de fato Luke Skywalker irá realizar e que se tornará tema do filme seguinte, O Retorno de Jedi (1983). É o que de fato todos nós fazemos em nossos momentos de dificuldade extrema.
Por fim, como exercício, O Magriço Cibernético deixou o vídeo seguinte, edição de uma das cenas mais emocionantes de O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel (2001). Com base nele, o que você é capaz de interpretar? Voltaremos a esse assunto na próxima quarta-feira.
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