A eficiência tanto na leitura quanto na
redação só é obtida quando se tem em mente que um texto não é apenas um
amontado de frases e ideias, mas um conjunto que se sustenta pela ligação entre
tais elementos. Essa é uma regra sagrada que precisa ser lembrada sempre, pois
dela depende a compreensão do mundo e de nosso papel nele. E para
exemplificação de como esses mecanismos de articulação garantem significação, seria
interessante a análise do arquifamoso Mona
Lisa, que Leonardo da Vinci (1452-1519) pintou por volta de 1505.
Inicialmente, quando olhamos para a
paisagem que está atrás da Gioconda, notamos um fenômeno interessante: a linha
do horizonte à direita é mais alta que a da esquerda. Cria-se então uma
perspectiva impossível, estando o ponto de vista da direita mais alto que o da
esquerda.
No entanto, a distorção provocada pelos horizontes
impossíveis não é uma falha. Na verdade, é um ingrediente muito bem planejado,
uma peça importante na articulação do texto imagético e que contribui para sua
significação. Para comprovar essa qualidade, basta observar que não é à toa que
a união das duas perspectivas se dê atrás da cabeça da nobre florentina. Trata-se
de uma técnica que destaca justamente essa região do corpo da retratada.
Mas, qual a finalidade de se realçar o
rosto da Gioconda? A resposta a essa questão é guiada pelo próprio quadro, que
orienta a nossa visão. O horizonte à direita faz nosso olhar movimentar-se para
cima, ao passo que o horizonte à esquerda produz um encaminhamento contrário.
Assim, temos a impressão de que os lábios de Mona Lisa se elevam ligeiramente à
direita, como se estivessem prestes a sorrir. E esse gesto é dirigido a nós, o
que se nota pelos olhos, coincidentemente (ou não) também voltados para
direita.
Dessa forma, o sorriso de Mona Lisa é um
signo que não funciona sozinho. Se eliminarmos todos os elementos do quadro e
ficarmos apenas com os lábios da Gioconda, já não teremos mais certeza, muito
menos a impressão de que ela está sorrindo. Esse gesto só aparece quando
conjugado a outros elementos, como os horizontes e o olhar da florentina.
A conclusão que se tira é cabal e igualmente
vital para o grato trabalho de leitura e redação: Mona Lisa só sorrirá para
nós, ou seja, um texto só entregará seu sentido quando observarmos a ligação
que há entre os diferentes elementos que o compõem.
Simples, direto e objetivo...bem vindo de volta, Magriço
ResponderExcluirMuito obrigado, caro Suricatte Snapes!
ExcluirLau, hoje você mencionou o idioma alemão na aula de analise de texto. Gostaria que vc fizesse um post tratando desse idioma.
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