quinta-feira, 1 de abril de 2021

Lista de livros da UNICAMP 2022: apresentação e dicas


          Quem for prestar o vestibular este ano para a UNICAMP, uma das mais renomadas instituições de ensino superior do mundo, terá de ler uma lista de obras literárias.

A primeira dessas obras é A Carta do Descobrimento do Brasil (1500), que Pero Vaz de Caminha escreveu para o rei de Portugal, D. Manuel I, descrevendo a terra recém-descoberta. Esse texto é considerado nossa certidão de nascimento, pois, além de ser o primeiro a ser escrito aqui, apresenta elementos que nosso povo assumirá como constituintes da identidade brasileira.

Outra obra exigida pelo vestibular da UNICAMP são 20 sonetos que a COMVEST selecionou. Trata-se de alguns dos exemplares mais bem acabados do que o maior poeta da língua portuguesa produziu, tornando o Classicismo (1527-158) um dos momentos preciosos da literatura em nossa língua.

Faz parte também dessa lista O Ateneu (1888), de Raul Pompeia, romance que, apesar de pertencer ao Realismo brasileiro, apresenta características do Impressionismo, Expressionismo e Naturalismo. Trata-se de uma obra memorialista em que Sérgio narra suas lembranças de infância e adolescência no colégio interno que dá nome ao livro.

Também dentro do Realismo está Bons Dias! (1888-1889), crônicas que Machado de Assis publicou na Gazeta de Notícias e que captam, de maneira bastante espirituosa e crítica, bem ao estilo machadiano, as transformações da sociedade brasileira na passagem da monarquia para a república.

Representando o Parnasianismo há Tarde (1919), livro de poemas de Olavo Bilac, autor que foi eleito pelo público da época o “príncipe dos poetas brasileiros”. Nessa obra se encontram alguns dos textos mais famosos do autor e que consagraram sua literatura acusada – um tanto injustamente – de agradar facilmente o leitor por não exigir muito do seu cérebro.

Um dos livros mais surpreendentes da lista de leitura obrigatória da UNICAMP 2022 é A Falência (1901), de Júlia Lopes de Almeida. Trata-se de uma obra que muitos apontam como realista, outros como naturalista, mas que, justamente por essa fusão de características e pela colocação em primeiro plano da realidade nacional (o Encilhamento e a constituição falha do casamento burguês), deve ser mais bem entendida como pré-modernista.

Dentro do Modernismo português está O Marinheiro (1913), de Fernando Pessoa, um drama estático de difícil interpretação por causa de sua história extremamente vaga, imprecisa, até mesmo hermética, mas que é valiosa por conter elementos que ajudam a entender o pensamento pessoano.

Dentro do Modernismo brasileiro se encontra o conto “Seminário dos Ratos” (1977), que está no livro homônimo. É importante destacar que não precisa ler o livro inteiro, mas apenas o seu último conto, que dá nome à obra. Nessa narrativa fantástica, a autora critica de maneira cômica e contundente a ineficiência do Estado brasileiro.

Integra também a lista dos livros literários cobradas pelo vestibular da UNICAMP os raps de Sobrevivendo no Inferno (1997), marco divisório extremamente importante na cultura hip hop e uma das maiores obras da cultura brasileira.

Por fim, representando a literatura moçambicana, a lista de obras literárias exigidas pelo vestibular da UNICAMP conta ainda com Niketche – Uma História de Poligamia (2002), de Paulina Chiziane, romance que narra a história de uma mulher que, ao descobrir que seu marido tem várias amantes, resolve conhecê-las.

O interessante – ou lamentável – é que quem quiser comprar todos esses livros terá de desembolsar R$ 338,40. É possível diminuir esse valor se se optar pela versão digital, em e-book – chega-se a R$ 126,43. É possível ainda diminuir esse valor graças ao download gratuito de obras que estão em domínio público (o link para elas está no final deste post), alcançando-se a cifra de R$ 69,80, referente aos livros que não estão disponíveis de maneira gratuita. Outra opção seria comprar esses volumes em sebos, como os que integram o Estante Virtual (www.estantevirtual.com.br), mas o valor obtido, R$ 222,75, seria salgado, em parte por causa do frete.

É possível ter acesso a essas obras por meio de empréstimo a bibliotecas públicas de escolas, bairro ou mesmo cidade. Ou então seria viável emprestá-las de um professor ou de um ex-vestibulando.

Há ainda uma alternativa criativa que segue os ideais mais modernos de economia compartilhada: criar um clube de literatura em que os seus integrantes rateiem a compra dos livros de leitura obrigatória da UNICAMP 2022 e passem a compartilhá-los.

E qual seria a melhor ordem para ler essas obras? Para quem está acostumado a lidar com textos literários, essa é uma questão sem importância, pois qualquer sequência seria agradável. Mas é possível aproveitar o ritmo de estudos do terceirão ou do cursinho e ter contato com cada um desses livros paralelamente às escolas literárias abordadas em sala. Assim, basta seguir a ordem apresentada acima.

Entretanto, há aqueles que não estão acostumados a lidar com literatura ou, pior, a ler livros de qualquer espécie. Para esses, é aconselhável iniciar o contato com os textos exigidos pela UNICAMP por meio de Sobrevivendo no Inferno, facilmente disponível em plataformas como Spotify, Deezer ou YouTube. A partir de então, pode-se ler “Seminário dos Ratos”, que é extremamente curto e, por isso, não causará cansaço.

Nesse ponto, o leitor iniciante já terá capacidade para empreitadas de maior fôlego. É chegado o momento de Niketche, que, por ser contemporâneo, não produzirá sofrimentos em sua leitura. Terminada essa obra, deve-se ir para A Falência, romance de linguagem fluente e que conseguirá prender prazerosamente o vestibulando.

Após o contato com essas obras, o estudante já estará treinado para a leitura e análise de textos literários. É a hora de empreitadas mais valentes, como as crônicas de Bons Dias!. Depois, pode-se ir para os poemas de Tarde.

Chega-se, então, ao momento mais cansativo da jornada, pois é nele que se encaram livros de leitura mais cansativa. O primeiro deve ser A Carta do Descobrimento do Brasil, que, escrita em 1500, está numa linguagem muito diferente da praticamente na atualidade. Depois, deve-se enfrentar O Marinheiro, que, apesar de ser uma peça teatral muito curta, é, como já dito, de difícil compreensão. Pode-se, assim, entregar-se aos Sonetos de Camões, que exigem maior paciência por causa da linguagem e do lirismo fortemente reflexivo. Encerra essa jornada O Ateneu, livro de leitura penosa em virtude da linguagem por demais elaborada e até mesmo empolada de seu autor.

Cada uma dessas obras será devidamente abordada este ano nO Magriço Cibernético.

 

Links para baixar gratuitamente algumas das obras da UNICAMP 2022:


Carta do Descobrimento do Brasil, de Pero Vaz de Caminha: http://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/Livros_eletronicos/carta.pdfhttp://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/Livros_eletronicos/carta.pdf

Sonetos de Camões: http://www.comvest.unicamp.br/wp-content/uploads/2018/06/sonetos_2019-2020.pdf


O Ateneu, de Raul Pompeia: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000297.pdf


Bons Dias!, de Machado de Assis: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000167.pdfhttp://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000167.pdf


Tarde, de Olavo Bilac: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000288.pdf


A Falência, de Júlia Lopes de Almeida: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bi000169.pdf

O Marinheiro, de Fernando Pessoa: https://pt.wikisource.org/wiki/O_Marinheiro