A primeira dessas obras é A
Carta do Descobrimento do Brasil (1500), que Pero Vaz de Caminha escreveu
para o rei de Portugal, D. Manuel I, descrevendo a terra recém-descoberta. Esse
texto é considerado nossa certidão de nascimento, pois, além de ser o primeiro
a ser escrito aqui, apresenta elementos que nosso povo assumirá como
constituintes da identidade brasileira.
Outra obra exigida pelo vestibular da UNICAMP são 20 sonetos
que a COMVEST selecionou. Trata-se de alguns dos exemplares mais bem acabados
do que o maior poeta da língua portuguesa produziu, tornando o Classicismo
(1527-158) um dos momentos preciosos da literatura em nossa língua.
Faz parte também dessa lista O Ateneu (1888), de Raul Pompeia, romance que, apesar de pertencer
ao Realismo brasileiro, apresenta características do Impressionismo,
Expressionismo e Naturalismo. Trata-se de uma obra memorialista em que Sérgio
narra suas lembranças de infância e adolescência no colégio interno que dá nome
ao livro.
Também dentro do Realismo está Bons Dias! (1888-1889), crônicas que Machado de Assis publicou na Gazeta de Notícias e que captam, de
maneira bastante espirituosa e crítica, bem ao estilo machadiano, as
transformações da sociedade brasileira na passagem da monarquia para a
república.
Representando o Parnasianismo há Tarde (1919), livro de poemas de Olavo Bilac, autor que foi eleito
pelo público da época o “príncipe dos poetas brasileiros”. Nessa obra se
encontram alguns dos textos mais famosos do autor e que consagraram sua
literatura acusada – um tanto injustamente – de agradar facilmente o leitor por
não exigir muito do seu cérebro.
Um dos livros mais surpreendentes da lista de leitura obrigatória
da UNICAMP 2022 é A Falência (1901),
de Júlia Lopes de Almeida. Trata-se de uma obra que muitos apontam como
realista, outros como naturalista, mas que, justamente por essa fusão de
características e pela colocação em primeiro plano da realidade nacional (o
Encilhamento e a constituição falha do casamento burguês), deve ser mais bem
entendida como pré-modernista.
Dentro do Modernismo português está O Marinheiro (1913), de Fernando Pessoa, um drama estático de difícil
interpretação por causa de sua história extremamente vaga, imprecisa, até mesmo
hermética, mas que é valiosa por conter elementos que ajudam a entender o
pensamento pessoano.
Dentro do Modernismo brasileiro se encontra o conto “Seminário
dos Ratos” (1977), que está no livro homônimo. É importante destacar que não
precisa ler o livro inteiro, mas apenas o seu último conto, que dá nome à obra.
Nessa narrativa fantástica, a autora critica de maneira cômica e contundente a
ineficiência do Estado brasileiro.
Integra também a lista dos livros literários cobradas pelo
vestibular da UNICAMP os raps de Sobrevivendo no Inferno (1997), marco
divisório extremamente importante na cultura hip hop e uma das maiores obras da cultura brasileira.
Por fim, representando a literatura moçambicana, a lista de
obras literárias exigidas pelo vestibular da UNICAMP conta ainda com Niketche – Uma História de Poligamia (2002),
de Paulina Chiziane, romance que narra a história de uma mulher que, ao
descobrir que seu marido tem várias amantes, resolve conhecê-las.
O interessante – ou lamentável – é que quem quiser comprar
todos esses livros terá de desembolsar R$ 338,40. É possível diminuir esse
valor se se optar pela versão digital, em e-book
– chega-se a R$ 126,43. É possível ainda diminuir esse valor graças ao download
gratuito de obras que estão em domínio público (o link para elas está no final deste post), alcançando-se a cifra de R$ 69,80, referente aos livros que
não estão disponíveis de maneira gratuita. Outra opção seria comprar esses
volumes em sebos, como os que integram o Estante Virtual (www.estantevirtual.com.br), mas o
valor obtido, R$ 222,75, seria salgado, em parte por causa do frete.
É possível ter acesso a essas obras por meio de empréstimo a
bibliotecas públicas de escolas, bairro ou mesmo cidade. Ou então seria viável
emprestá-las de um professor ou de um ex-vestibulando.
Há ainda uma alternativa criativa que segue os ideais mais
modernos de economia compartilhada: criar um clube de literatura em que os seus
integrantes rateiem a compra dos livros de leitura obrigatória da UNICAMP 2022
e passem a compartilhá-los.
E qual seria a melhor ordem para ler essas obras? Para quem está
acostumado a lidar com textos literários, essa é uma questão sem importância, pois
qualquer sequência seria agradável. Mas é possível aproveitar o ritmo de
estudos do terceirão ou do cursinho e ter contato com cada um desses livros
paralelamente às escolas literárias abordadas em sala. Assim, basta seguir a
ordem apresentada acima.
Entretanto, há aqueles que não estão acostumados a lidar com
literatura ou, pior, a ler livros de qualquer espécie. Para esses, é
aconselhável iniciar o contato com os textos exigidos pela UNICAMP por meio de Sobrevivendo no Inferno, facilmente
disponível em plataformas como Spotify, Deezer ou YouTube. A partir de então,
pode-se ler “Seminário dos Ratos”, que é extremamente curto e, por isso, não
causará cansaço.
Nesse ponto, o leitor iniciante já terá capacidade para
empreitadas de maior fôlego. É chegado o momento de Niketche, que, por ser contemporâneo, não produzirá sofrimentos em
sua leitura. Terminada essa obra, deve-se ir para A Falência, romance de linguagem fluente e que conseguirá prender
prazerosamente o vestibulando.
Após o contato com essas obras, o estudante já estará
treinado para a leitura e análise de textos literários. É a hora de empreitadas
mais valentes, como as crônicas de Bons
Dias!. Depois, pode-se ir para os poemas de Tarde.
Chega-se, então, ao momento mais cansativo da jornada, pois é
nele que se encaram livros de leitura mais cansativa. O primeiro deve ser A Carta do Descobrimento do Brasil, que,
escrita em 1500, está numa linguagem muito diferente da praticamente na
atualidade. Depois, deve-se enfrentar O
Marinheiro, que, apesar de ser uma peça teatral muito curta, é, como já
dito, de difícil compreensão. Pode-se, assim, entregar-se aos Sonetos de Camões, que exigem maior
paciência por causa da linguagem e do lirismo fortemente reflexivo. Encerra
essa jornada O Ateneu, livro de
leitura penosa em virtude da linguagem por demais elaborada e até mesmo
empolada de seu autor.
Cada uma dessas obras será devidamente abordada este ano nO
Magriço Cibernético.
Links para baixar gratuitamente algumas das obras da UNICAMP
2022:
Carta do Descobrimento do Brasil, de Pero Vaz de Caminha: http://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/Livros_eletronicos/carta.pdfhttp://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/Livros_eletronicos/carta.pdf
Sonetos de Camões: http://www.comvest.unicamp.br/wp-content/uploads/2018/06/sonetos_2019-2020.pdf
O Ateneu, de Raul Pompeia: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000297.pdf
Bons Dias!, de Machado de Assis: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000167.pdfhttp://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000167.pdf
Tarde, de Olavo Bilac: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000288.pdf
A Falência, de Júlia Lopes de Almeida: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bi000169.pdf
O Marinheiro, de Fernando Pessoa: https://pt.wikisource.org/wiki/O_Marinheiro